quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Sumiram todos os fumantes do mundo

Mais um dia mediocre, acordo com a ansiedade comendo solta, tonturas e uma leve dor de cabeça, malditos remédios parecem que mal fazem efeito. Fico esticado lendo Jorge Amado. Jorge Amado foi um dos bons, quem escreve “batuta”, “supimpa”, “o teu come?” e “só boto atrás” tem que ser um dons bons. Um bom misto de marginalidade, safadeza, realidade e poesia.

Levanto da cama lá pelas déz e meia, desacreditado de ter que trabalhar ao meio dia. O tempo sobra, mal aproveitado, penso no que vou comer agora e depois. Na geladeira tem carne de ontem, queijo e presunto. É isso mesmo, coloco tudo num pote e está feito meu almoço, mais duas tangerinas pra matar o gosto da carne requentada e pronto. Procuro uma bolacha na cesta de pão, cheia de pão mofado que meu pai insiste em jogar no quintal pros passarinhos, mas no final acaba verde do bolor e catingando a casa toda. Tá lá, em meio a todo aquele podrume, meio pacote de bolacha aberta, melhor que nada. Jogo tudo na mochila, acompanhado de Hemingway, James Joyce e um caderno onde anoto as idéias inesperadas.

Olho pro relégio. Porra! Inves de me arrumar fiquei no quintal fumando e agora só tenho déz minutos pra tomar banho e sair. Vou correndo, toalha umida graças ao sol que não deu as caras. Banho quente é sempre aquela maravilha, você nunca quer sair, mas e o motorista do ônibus? Com certeza não vem tomar banho comigo. Ralo entupido, começa a vazar água no banheiro todo. Puta que o pariu, eu mereço mesmo, não dá tempo de limpar, corro, visto a primeira roupa que vejo na minha frente e vou rua abaixo até o ponto de ônibus. Bem, essa era a idéia,no meio do caminho lembro do maço de cigarros que ficou encima da mesa.E agora? Chego atrasado ou fico sem meu trago? Merda de tabagismo. Corro pra casa, pego o maço e volto correndo, no meio do caminho vejo o amarelão passar. Agora cagou-se. Tanto faz chegar um pouco atrasado, no fim das contas ganho por dia e não por hora.

Sento num bloco de cimento ao lado do ponto, já que até em ponto de ônibus é proibido fumar hoje em dia. Não que eu respeite, longe disso, mas melhor não arrumar confusão com as velhas asmáticas da igreja. Acendo um cigarro, percebo que o maço está quase vazio, nem valeu a pena ter ido buscar. Começo a pensar, estou com uma roupa que já usei umas duas vezes, fedendo a fumaça e sem casaco ainda. O vento frio bate forte, nesse momento o sol timido me esquenta, mas e depois? Chega a lotação, lotado até a boca, fico num canto perto do motorista que volta e meia reclama que eu estou na frente do espelho lateral. Mas que merda, vou fazer o que? Me pendurar na janela? Segue o caminho, me arrisco em meio a mil cotovelos e o forte cheiro de asa, até o meio do ônibus. Me arrependo, a maldita velha que leu a biblia e enlouqueceu estava lá, cantarolando qualquer musica religiosa e soltando alguns berros sem nexo em meio aos sacrilégios da melodia, um verdadeiro calvário.

Chegando no centro salto no ponto da catedral ainda em clima de música gospel. Puxo um cigarro, o maço amassado está quase no fim, levo a mão ao bolso a procura do isqueiro. Nada. Coloco a mão mais fundo na esperança de encontrá-lo por lá. Nada. Nada além de um furo no bolso, por onde provavelmente se esgueirou o pequeno bic amarelo rumo a lugar nenhum. (Continua...)

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