quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O circo

Tem um lugar que está a pedir registros fotográficos. Trata-se de um circo daqueles que você não consegue crer que está de pé, promete mundos e fundos e apresentam uma porção de truques tabajara. Para ter idéia tem até “o incrivel homem sem cabeça”. Imperdivel!

Assim acabei por aceitar o convite que ela me fez, não sabia bem o por que, talvez um misto de curiosidade e indignação, vontades e desejos. Com certeza o velho Gabito dos colombianos contribuiu com a decisão de ir até lá. Imaginei os ciganos, o velho Melquiades chegando a pequena Macondo e exibindo as ultimas invenções dos sábios orientais, descobertas de duzentos anos atrás que sequer aquele povo simples tinha pensado existir. Cobravam então alguns pesos para se tocar o gelo e voar no incrivel tapete voador, além de impressionar a todos com o trabalho de alguns imãs atraindo pequenas peças de metal. Não me saia da mente a simplicidade aparente que conquistava vários espiritos, a alegoria mediocre com tamanho poder de alegrar. Por um momento revivi o gosto de observar pessoas, queria viver a reação do público, queria sentir a alegria alheia. Mas acima de tudo isso, a vontade de revê-la me impulssionava a essa aventura inusitada.

Nosso encontro ficou combinado para as 20 horas no terminal sul. Durante a tarde procurei pela minha câmera afim de tirar algumas boas fotos a noite, em preto e branco claro, valorizando cada sombra prodigiosa, desacreditando das cores vivas para dar vida ao sentimento presente em cada momento. Gosto mesmo de fotografar pessoas, atento a tudo, a cada demonstração de existência, meu momento ideal é um pequeno instante que mal nasce, morre. Um bom tempo para uma fotográfia é como tudo na vida, efêmero. Enfim encontro minha máquina de congelar momentos, mas, em vão busco pelo carregador, terei então que torcer para que a bateria aguente, assim como eu terei que me aguentar para não beija-la freneticamente na hora do comprimento. Tento então ficar bonito enquanto me aprontava. Já atrasado como de costume, visto uma camisa xadrez branco-avermelhada e uma calça jeans escura, me cubro então com uma jaqueta preta, no estilo londrinho, um clássico dos anos 60. Básico como gosto, nunca fui fã de roupas chamativas ou de muitos detalhes, a moda, como diz meu pai, eu prefiro distância. Busco então o toque final, o perfume quase findado já não exala o mesmo cheiro atrativo de outrem, agora o odor do alcool sobrepõe a fragância.

Lá fora o céu vaza com vontade, forte como se quisesse esmagar-nos por nossos pecados. Fico imaginando se a chuva atrapalharia o espetáculo. Para mim, poucas vezes a chuva foi um encomodo, sempre gostei muito de sentir os pingos na face, isso me dava a estranha certeza de estar vivo. Então vou até o quintal, e enquanto fumo um cigarro observo a água caindo pela calha da casa vizinha, recordo que nos conhecemos a apenas três dias e já haviamos trocado carícias, calores e fluidos, nossos corpos haviam balançado no ritmo do prazer. A fumaça sempre me traz lembranças. Decidido, pego meu guarda-chuva e saio em meio a imensidão de água que desaba.

Chego no terminal praticamente na hora combinada, aproveito para fumar mais um cigarro e tentar acalmar o espirito agitado. Ansiedade tem sido um problema nos ultimos tempos, a mente vai a mil e ondas e calor percorrem o corpo. Pra que isso? Ela já disse que não quer nada sério com ninguem, preza pela liberdade. Sempre fui assim na verdade, cheguei a conclusão que amo todas as mulheres do mundo, não importa pelo tempo que for. As despedidas já não me destroem como antigamente, simplismente me convidam a novos e deliciosos amores, até então, terminarem novamente. (Continua...)

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